segunda-feira, 21 de setembro de 2009

As cartas que tanto pediste, aqui estão.


Os cartões amarelos já nao serviam mais. Os braços estavam exaustos de erguê-los em movimentos repetitivos. Levantei-os um amontuado de vezes, não por arrogância, e sim a fim de que o jogador percebesse que em determinados jogos faziam-se necessárias a fidelidade e a lealdade. Em vão.

Pensei em decretar fim de partida. Fim de toda e qualquer partida minha. Até coloquei o apito sobre os lábios. Todavia, o único som que este fez fora o murmúrio de bonitas palavras cheias de esperança.

E é neste momento que pela última vez levo ao alto minhas mãos. Porém, desta vez, a cor do cartão que elas seguram é a mesma cor das flores ingenuamente falsas que me entregas.

É tempo de jogo novo.

domingo, 20 de setembro de 2009

Simpatia

Realmente poderiam usar outros critérios pra determinar quem passa no vestibular. Julgar que toda a competência de um candidato pode ser avaliado em uma prova - que de tão esperada se torna motivo de tremedeiras e chiliques - é ignorancia. Deveriam avaliar não apenas a capacidade de gravar nomes e fórmulas, mas também deveriam dar alguma importância pra , a determinação do canditato, o jogo de cintura, e até mesmo a simpatia.

Caramba, havia três temas pra redação do simulado, por que eu tive que escolher justo " dê um sentido para a vida"? Eu deveria saber que não sou uma pessoa muito propícia pra ver sentido na vida. Tinham temas como "matemática em nossas vidas". Eu, que se minha inteligencia permitir, passarei no vestibular para engenharia sanitária ambiental, porque diabos não fiz esse? Porque resolvi afirmar o clichê de que a vida é bela e tralalala? Óh céus pior redação da minha vida. E não tens idéia do peso que essa frase anterior tem! Porque ora, são ruins essas.

Mas já que o vestibular não aceitaria usar os meus critérios na avaliação, eu mesma tratarei de usar: Vou lá acender velas e incensos.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

sábado, 5 de setembro de 2009

Hoje logo que acordei ouvi algumas palavras que me destruiram.
Mal lembro da última vez que tive uma conversa decente com o meu irmão. Considero conversa decente aquelas que passam do 'oi' e do 'tudo bem'. E não, isso não acontece por que seguimos caminhos diferentes ou estamos a léguas de distância um do outro. Muito pelo contrário, somos vizinhos.
Há uns oito anos atrás, quando eu tinha mais ou menos nove anos e ele dezenove, acontecia uma das cenas felizes - se não a única - que ainda recordo do tempo em que tinhamos um tipo de relacionamento. Ele me pegava no colo, me colocava de cabeça pra baixo e começava a girar. Eu morria de medo, começava a gritar, e ele ria fazendo caretas com as mãos e o rosto. Depois disso fazia uma espécie de cócegas na minha barriga, assoprando com a boca. Eu ficava braba, me irritava, mas no fundo gostava.
Quando ele tinha vinte e dois, começou e se distanciar da família. Passava noites fora de casa, discutia com nossos pais. Certo dia minha mãe estava lavando calças dele. Abriu os bolsos. Percebeu algo estranho, um saquinho com algo enrolado: Maconha.
Pode parecer nada de muito anormal pros dias de hoje. Mas acabou com a minha mãe, e com ele muito mais. O distanciamento era cada vez maior, e eu já não falava quase nada além do 'oi' com ele. Após isso, ele, que já namorava há alguns anos, teve uma filha. Nossos pais construiram uma casa pra ele, do lado da minha, onde eles vivem.
Ele saia com outras mulheres, batia na mulher. Não estudava, não trabalhava, sabe-se lá o que fazia.. Ver minha mãe sofrendo com isso me dava raiva, realmente me tirava todo sentimento de irmão que um dia tive. Cheguei a desejar que ele sumisse, sei lá, desse o fora de algum jeito, pra que assim não houvesse mais brigas. Brigas que me deixavam com medo, medo de possíveis agressões, de tragédias, já não sabia o que ele e as drogas podiam fazer.
Eu esqueci que tinha um irmão. Me sentia filha única, incompreendia e discordava de tudo que ele fazia sem nada dizer ou questionar a ele. Sem mais nenhuma briga com ele, das que os irmãos contumam ter, e as quais no fundo possuem um certo amor. Sentia por ele nada. Também achava que era o que ele sentia. Achava que ele sentia até um pouco de raiva.. ou até mesmo achava que ele já não podia sentir mais nada por ninguém.
E pra minha surpresa, hoje demanhã assim que eu acordo, minha cunhada estava aqui em casa. Comecei a conversar com ela, e ela a falar do meu irmão. Daí ela coloca as mãos sobre na cabeça, como quem lembra de algo:
"Ontem teu irmão falou de você. Falou que eu não fazia idéia do quanto ele te amava, da preocupação que tinha contigo. Os olhos dele estavam cheios de lágrimas..."
me desmanchei em lágrimas e vergonha. Vergonha de não saber que somos todos humanos.
As atitudes erradas de uma pessoa não tiram dela a capacidade de sentir, não as tornam alienigenas ou seres que não merecem a compreensão e o afeto. Somos todos tão iguais...